sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Estratótipos

Os estratótipos surgem da necessidade de eleger uma determinada camada como aquela que melhor representa determinado intervalo de tempo pré-histórico a nível internacional.
Existem os estratótipos simples que são o caso de uma secção estratigráfica que retrata a sua época de maneira simples. Quando não é possível um estratótipo deste tipo recorre-se a uma área mais abrangente, ou seja o estratótipo composto.
Os estratótipos devem também representar as unidades sem “imperfeições” como hiatos ou descontinuidades, apresentando uma boa disposição da base até ao topo da secção assim como variações laterais de fácies ao longo das camadas. Têm-se assim estruturas que fazem uma boa descrição geológica e geográfica do local, incluindo outros parâmetros como a localização, meios de acesso, espessura, litologia, paleontologia, mineralogia, estrutura e expressão morfológica.
Os seus limites são definidos por localidades-tipo ou regiões-tipo.
Os estratótipos podem classificar-se em vários tipos:
·         Holostratótipo – Estratótipo original definido pelo autor ao estabelecer uma unidade ou um limite.

·         Parastratótipo – Estratótipo suplementar utilizado pelo autor original com o objectivo de completar a definição original do Holostratótipo.

·         Lectostratótipo – Estratótipo que, não se verificando um estratótipo original devidamente designado, é seleccionado mais tarde.

·         Neostratótipo – Estratótipo que é escolhido com o fim de substituir um antigo que desapareceu ou foi rejeitado.

·         Hipostratótipo – Estratótipo suplementar que visa completar o conhecimento de determinada unidade ou de um limite noutras áreas geográficas.

Aqueles que se consideram originais são o Holostratótipo e o Parastratótipo, que são definidos pelo autor. O Lectoestratótipo e o Neoestratótipo acabam por ser designados primários e o Hipostratótipo por um padrão auxiliar secundário.
No entanto podem levantar-se alguns problemas, como o facto de os estratótipos caracterizarem intervalos de tempo relativamente breves e que muitas vezes podem não representar muito bem o desenvolvimento de certos organismos. Além disso, podem ser representados por um conjunto restrito de organismos, não representando a totalidade de fácies que deveria.

Bibliografia:
- Quininha, Mariana (2008), "Estratigrafia e Paleontologia". Página consultada a 24 de Dezembro de 2010, http://estpal08.blogspot.com/2008_10_01_archive.html

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Sedimentação

Já se viu que a sedimentação está na base da estratigrafia, mas afinal o que é a sedimentação e como se processa?
O processo começa com o transporte de partículas de sedimentos de um sítio para outro, onde se tornam numa rocha sólida, essa é a “ideia” da sedimentação. Este processo pode ser algo rápido e brusco, como o caso de uma derrocada, ou lento e contínuo, como a deposição gradual de pequenos sedimentos trazidos por um rio.
Além disso, a “dimensão” desta deposição de sedimentos pode variar de uma pequena bacia até a zonas do oceano maiores até que países. No entanto, os sedimentos que se depositam no fundo do mar são os que têm maiores hipóteses de conservar em estratos no registo das rochas.
Como já foi dito, uma das muitas maneiras da sedimentação é a sedimentação contínua, que é quando os sedimentos se vão depositando e acumulando gradualmente ao longo do tempo. Tem-se como exemplo os sedimentos que são transportados por um rio e que se acumulam em praias ou deltas, e os corais e outros fragmentos que se aglomeram na base dos recifes.
É possível notar um acumulo de sedimentos mais esbranquiçados trazidos pelo mar na imagem acima

No entanto, é possível falar também de deposições mais violentas. Há que mencionar as nuvens ardentes, por exemplo, que são enormes e poderosas correntes de cinzas e fragmentos vítreos vulcânicos transportados num fluxo de ar quente, pela encosta de um vulcão. Estas nuvens podem influenciar severamente os climas globais e poderão ter contribuído para períodos de extinção. Estas correntes levam vários sedimentos de maiores dimensões os quais acabam por ir sendo deixados para trás e depositam-se localmente, formando depósitos chamados tufos vulcânicos.
Nuvem ardente no Japão

Temos também o caso das correntes túrbidas, que são fluxos semelhantes às nuvens ardentes em comportamento mas que ocorrem debaixo de água, consistindo de areia, lama e partículas finas suspensas na água.
Estas correntes túrbidas podem então percorrer vários quilómetros, centenas, até assentarem no fundo dos oceanos, formando aquilo a que se chama turbidites. Esta deposição de partículas, que podem atingir vários metros de altura, é muito rápida, variando entre algumas horas e alguns dias.
Estas correntes túrbidas podem ser provocadas tanto por sismos como pelo simples desequilíbrio de algumas das grandes pilhas de sedimentos transportados pelos rios que se acumulam em lagos ou no leito dos oceanos.
O impacte extraterrestre também é um factor que influencia a sedimentação. Quando um meteorito cai na terra, este funde as rochas em redor, as quais podem ser então ejectadas da cratera e espalhar-se por uma vasta área.
A imagem mostra como as rochas circundantes da zona de impacte agem, sendo ejectadas para longe da cratera, cobrindo outras áreas em redor

Por fim, podemos falar ainda dos glaciares, grandes blocos de gelo que se movem e carregam consigo blocos rochosos que podem atingir dimensões notáveis. Quando as grandes massas de gelo se movem, erodem as rochas com que entram em contacto e as partículas daí soltas são levadas pela base gelada.
Quando o gelo derrete, resta uma mistura de sedimentos de dimensões muito variadas, rodeados por uma matriz de lama. Uma mistura que se pode estender por vários quilómetros de extensão. 
Os glaciares são das forças que maiores detritos conseguem transportar
   
Bibliografia:
- Palmer, Douglas (1999), Atlas do mundo pré-histórico, Gütersloh: Círculo de Leitores.

Formação de Fósseis

Os fósseis são das ferramentas mais importantes quando se reconstrói a vida na Terra de um passado muito distante.
Mas há que notar que muitos os registos fósseis que se obtêm nos dias de hoje correspondem apenas a uma percentagem de seres vivos cujas características lhes permitiam uma boa fossilização, como aqueles com partes mais rijas facilmente preserváveis: como conchas e ossos.
No entanto, como poderemos saber até que ponto é que os fósseis encontrados hoje retratarão bem o passado na Terra. Simplificando, nos dias de hoje sabemos que existem milhares e milhares de espécies diferentes de seres vivos no planeta, desde os mais pequenos vírus até às maiores baleias. Mas quantas dessas espécies poderiam sofrer uma boa fossilização? Muitas provavelmente não.
Da mesma maneira, quantos seres vivos se terão “perdido” na história da Terra, incapazes de serem fossilizados ou tendo sido destruídos posteriormente?
Para se poder formar uma imagem razoável dessa quantidade, é essencial perceber como funciona o processo de fossilização.
De uma maneira geral, organismos sem partes rígidas como conchas e ossos têm grandes dificuldades em se fossilizarem, pelo que grande parte das espécies que se poderão ter “perdido” ou das quais se encontram muitos poucos registos são representadas pela maioria dos seres unicelulares e outros microrganismos, algas, plantas vasculares sem tecidos lenhosos, vermes, medusas e, particularmente, os insectos, os quais estão bastante mal representados nos fósseis.
O caso comum da fossilização processa-se pelos seguintes passos:
1.       O animal morre e é sepultado em sedimentos macios do leito marinho.

2.       A carne decompõe-se e os ossos, cobertos por camadas de sedimentos, são mineralizados.

3.       O esqueleto fóssil é comprimido pelo peso e movimento da terra.

4.       As forças erosivas acabam por ir desgastando a superfície aos poucos, até que o esqueleto do animal fica exposto.

No entanto, existem vários outros tipos de fossilização. Eis alguns tipos:
·         Dissecação – Acontece em especial em ambientes desérticos, podendo conservar a pele, o cabelo e mesmo os músculos. Basicamente, o corpo do organismo é desidratado, tornando-o inóspito a bactérias, o que faz com que dure mais.

·         Conservação em âmbar – Uma grande variedade de organismos, como girinos e insectos parasitas, pode-se encontrar conservados em âmbar, tendo ficado presos na resina, que pode permanecer intacta durante muito tempo.

·         Congelação – De uma maneira semelhante ao âmbar, alguns organismos podem ficar preservados em gelo, durante muitos milhares de anos, com o próprio sangue e órgãos ainda intactos. O caso mais notável foi a de um mamute bebé, que terá vivido há mais de quarenta mil anos.

·         Pântanos e lodo – Trata-se do caso em que um animal fica preso num pântano. As bactérias responsáveis pela reciclagem da matéria orgânica, quando em ambientes pobres ou desprovidos de oxigénio, podem promover a fossilização de tecidos moles.

·         Moldagem – É o caso quando o organismo deixa superfícies e/ou cavidades marcadas nas rochas (exemplo: pegadas), e estas estejam susceptíveis de serem preenchidas por sedimentos finos, podendo assim replicar informação biológica, fazendo novos fósseis a partir de fósseis pré-existentes.


Bibliografia:
- Palmer, Douglas (1999), Atlas do mundo pré-histórico, Gütersloh: Círculo de Leitores.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Tempo Geológico

Pensava-se antigamente que o nosso mundo tinha poucos milhares de anos de idade, segundo interpretações da bíblia. Mas foi quando estudos mais aprofundados sobre as rochas tomaram lugar é que se percebeu que a Terra era muito, muito mais antiga que isso.
Sabe-se hoje que o nosso planeta tem sensivelmente quatro mil e seiscentos milhões de anos, sendo incrivelmente velho, quando comparado ao tempo de vida de um humano, ou até mesmo do tempo em que uma determinada espécie existiu, desde o seu surgimento até à sua extinção.
Ainda que para nós, humanos, a Terra pareça algo estático, com os oceanos, continentes, montanhas, etc sempre “no mesmo sítio”, o planeta é bastante dinâmico, quando se tem em consideração o seu tempo de “vida”. Onde hoje existem oceanos, noutros tempos poderão ter existido desertos ou florestas verdejantes. Já que os humanos não podem observar essas alterações, só têm uma maneira de saber que elas de facto se deram: estudando as rochas, que não são senão “registos” das alterações que a Terra sofreu e das espécies que nela habitaram.
Divide-se então a idade da Terra primeiro em grandes unidades, denominadas eons, que são conhecidas por Hádico, Arcaico, Proterozóico (que formam o Pré-Câmbrico) e Fanerozóico. O primeiros correspondem a uma altura da Terra da qual praticamente não se têm registos rochosos, e que durou cerca de quatro mil milhões de anos, ao passo que o Fanerozóico corresponde a um período de tempo que durou desde o período Câmbrico até aos dias de hoje. É interessante notar que o Pré-Câmbrico é consideravelmente maior que o Fanerozóico, o que prova que aquilo que sabe da história da Terra nos dias correntes é apenas um pequeno fragmento daquilo que o planeta “viveu”.
O Fanerozóico é então dividido em unidades mais pequenas chamadas de eras, e as que o compõem são o Paleozóico, o Mesozóico e o Cenozóico (do mais antigo para o mais recente). A terminação utilizada para as eras é o –zóico.
No entanto, dividiu-se ainda as eras do Fanerozóico em subunidades ainda mais pequenas chamadas períodos: Paleozóico é dividido em Câmbrico, Ordovícico, Silúrico, Devónico, Carbónico e Pérmico (do mais antigo para o mais recente); o Mesozóico é divido em Triássico, Jurássico e Cretácico (do mais antigo para o mais recente); e o Cenozóico é dividido em Paleogénico, Neogénico e Quaternário (do mais antigo para o mais recente). Estes períodos são divididos com base em grandes alterações a nível da vida na Terra, correspondendo grande parte a “momentos” de extinções. A terminação utilizada para os períodos é o –ico.
As épocas correspondem por sua vez a subunidades dos períodos (em casos gerais, só os períodos do Cenozóico é que têm estas subunidades), e são eles (do mais antigo para o mais recente): Paleocénico, Eocénico, Oligocénico (os três do Paleogénico), Miocénico, Pliocénico (os dois do Neogénico), Plistocénico e Holocénico (do Quaternário). A sua terminação é –cénico. Já os períodos Triássico, Jurássico e Cretácico dividem-se apenas, cada um, em Inferior, Médio e Superior.
 Além destas divisões, temos ainda os andares, que dividem as épocas, cujos nomes são dados de acordo com a localização onde mais foram estudados e a terminação -iano.
Eis um quadro de divisão estratigráfica:


Bibliografia:

- Palmer, Douglas (1999), Atlas do mundo pré-histórico, Gütersloh: Círculo de Leitores.
- Domingos, Luís (2006), "Terra Planeta Vivo". Página consultada em 21 de Dezembro, http://domingos.home.sapo.pt/temp_geol_1.html

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Discordâncias

Uma discordância é um tipo de descontinuidade que se verifica nos estratos caracterizada pela existência de um hiato aquando do longo processo de sedimentação, ou seja, um pequeno intervalo de tempo em que houve erosão ou simplesmente não houve deposição. Isto pode então causar uma superficie de contacto ou limite entre duas unidades litostratigráficas, à qual se chama então de discordância, as quais podem ser de quatro tipos:

- Angular - Uma vez o material tendo-se depositado, devido a fenómenos sísmicos, este pode acabar por mudar a sua configuração inicial. E assim, camadas paralelas e horizontais podem inclinar-se e tornarem-se obliquas. Mas depois desse fenómeno, as camadas seguintes continuarão a depositar-se horizontalmente, tal como as camadas anteriores, antes de estas sofrerem a dita alteração. Em corte, fica-se com o seguinte (esquemáticamente):

As camadas H, G, F, E e D ter-se-ião depositado horizontalmente, segundo o princípio da horizontalidade dos estratos, e devido a diversos fenómenos sísmicos, acabarião por ficar com a disposição que possuem na figura. Mas a seguir a isso, as próximas camadas (C, B e A) continuariam a depositar-se segundo o principio da horizontalidade dos estratos, e como tal já não seriam paralelas às anteriores. A discordância angular é então a linha que separa a camada D das camadas C, B e A.

- Litológica - Esta discordãncia verifica-se em cortes com a presença de intrusões magmáticas, e é definida como a descontinuidade entre uma rocha sedimentar (na figura abaixo, camadas A, B e C) e uma rocha metamórfica (representado a vermelho).



- Erosiva - Como o nome sugere, esta discordância é caracterizada pelo processo de erosão que se dá durante o hiato. Ou seja, as camadas depositadas anteriormente sofrem erosão (estando ou não horizontais), e as posteriores depositam-se normalmente, segundo o principio da horizontalidade dos estratos. O aspecto é semelhante ao da figura abaixo:


- Paralela - Esta é uma discordância que não é facilmente perceptivel desde logo, pois há uma sucessão de sedimentos e sem superficie de erosão. Para que possa ser distinguida, deve-se analisar o seu conteúdo fossilifero.  

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Noção de Estratigrafia

    O propósito da criação deste blog é o de expôr diversos textos originais que se enquadram dentro do tema de Estratigrafia e Paleontologia. Por isso, para começar este blog, irei dar uma noção do que é a Estratigrafia e qual a sua utilidade.

    O processo de sedimentação é onde tudo começa, e a quantidade de acontecimentos que intervêm na deposição de sedimentos é o que faz surgirem diferentes camadas geológicas, com diferentes composições litológicas entre si. Se não houver muita alteração posterior à sedimentação, normalmente as sucessões de estratos encontrar-se-ão horizontais e paralelas entre si, com um aspecto semelhante ao da imagem de baixo.

Estratos rochosos numa praia, em Nova Gales do Sul (tirada da Wikipédia)


    Nestes casos mais simples, a camada que está mais abaixo é a mais antiga e as que a sucedem vão sendo cada vez mais recentes. No entanto, existe toda uma série de acontecimentos geológicos que se podem dar posteriormente à sedimentação de determinados estratos e que irão influenciar a disposição das camadas, podendo fazer estas inclinarem-se, dobrarem-se, quebrarem-se ou até desaparecerem. Dobras, falhas e intrusões magmáticas são apenas alguns exemplos de fenómenos associados à deformação das camadas.

    Assim sendo, deparando-nos com uma determinada sequência de estratos e com as suas características, será possível perceber que fenómenos tiveram lugar, assim como a sua idade relativa. Se as camadas estiverem inclinadas, pode indicar-nos que houve uma dobra, por exemplo, o que nos pode ajudar a compreender o comportamento que aquele terreno teve e a reconstituir a sua história.

   Este é basicamente o papel da Estratigrafia, determinar os eventos que levaram à formação dos estratos de rochas e relacionar os mesmos com outras zonas, interpretando-se assim a história geológica. 

   Vale ainda salientar a importância que os fósseis encontrados nesses estratos podem assumir, visto que podem tratar-se, por exemplo, de fósseis de espécies que viveram num período de tempo muito restrito (que poderá dizer respeito a uma camada muito específica), e que, como tal, poderão servir de caracterizadores da camada em questão e usados para relacionar cronologicamente essa camada com outra detentora dos mesmo fósseis que se encontre a uma maior distância da região em questão.